Elas preparam-se mais e destacam-se em carreiras antes dominadas
por homens. A competição vai aumentar muito se elas não saírem do jogo antes da
hora.
Na mesa de trabalho da 20ª mulher mais poderosa do mundo segundo
a lista da revista americana Forbes, (Maria das Graças Foster, presidente da Petrobras), entre as pilhas de relatórios,
balanços financeiros e planilhas de resultados também figuram esmalte, remédio
para gripe e um DVD do músico inglês Phil Collins. No dia em que venceu as
eleições de 2010, a presidente Dilma Rousseff declarou que todo pai e toda a mãe
do Brasil podiam sonhar que suas filhas ocupassem o cargo mais alto da República.
Mulheres: vence quem se dedica mais |
A entrada das mulheres nas carreiras de exatas é um passo importante
para eliminar a barreira mais resistente que o sexo feminino encontra no
mercado: a presença de mulheres nos cargos mais altos das empresas. Um estudo
da Escola de Negócios Wharton mostra que uma das razões para a baixíssima
presença de mulheres em altos cargos executivos — apenas 3% das empresas
brasileiras têm mulheres na presidência — está nas escolhas que elas fazem na
origem da carreira.
Um
novo gás
Hoje, em uma década em que levantar bandeiras e causas
tornou-se um hábito democrático saudável em todo o mundo, era de se esperar que
surgisse alguém com a intenção de revitalizar o movimento feminista. Esse papel
foi assumido pela americana Sheryl Sandberg, chefe de operações do Facebook. Ela
conclama as mulheres a retomar a revolução feminina, que, em suas palavras,
estagnou. Nos Estados Unidos,
as mulheres igualaram os homens em termos de formação 30 anos atrás. E pouca
coisa mudou desde então — mundialmente elas ocupam 9% das cadeiras de
presidentes e 21% das diretorias e vice-presidências. Por isso é hora de dar um
novo gás na revolução.
O modelo de trabalho atual foi pensado por homens e para homens, numa
época em que eram eles os provedores financeiros de uma família enquanto as
mulheres eram responsáveis pela educação e administração do lar. As mulheres
foram pegas de surpresa. O resultado são
gerações mais novas de mulheres que se veem obrigadas a optar por carreira ou
família. Há uma enorme evasão nas empresas quando as mulheres chegam aos postos
de liderança. Mulheres devem pensar grande, devem ter uma vista aérea da
questão feminina. Os homens são aplaudidos por serem ambiciosos ao passo que as
mulheres costumam pagar um preço social por isso.
De acordo com a economista Siham Hassan, diretora de gerenciamento de
informação, as mulheres valorizam a competência pessoal, sem diferenciar
gêneros. A filial brasileira da SAP, empresa de origem alemã e fornecedora de
software de gestão, está lançando um programa no qual executivos do alto
escalão da empresa devem dar apoio individualizado a mulheres em cargos de
gerência. A medida tem por objetivo levar mulheres ao topo da companhia, que atua
em um dos setores mais masculinizados do mercado. “A ideia é que as mulheres sejam
mais vistas e consideradas para posições mais altas”, diz Paula Jacomo,
diretora de RH da SAP.
Neste século, a bandeira de Sheryl Sandberg — levar mais mulheres aos
principais cargos das empresas — é algo que dificilmente vai encontrar
discordância entre homens e mulheres, pelo menos conscientemente. Executivos
homens não ousarão discordar que o equilíbrio é bom, considerando-se que são
pais, maridos ou, no mínimo, filhos de uma mulher.
Para as mulheres brasileiras, diferente de outras culturas, o trabalho
tem que vir junto com uma vida familiar feliz, com tempo e pelo menos um filho.
É como se tivessem três grandes áreas a dominar para ser felizes e
bemsucedidas: o trabalho, a família e a aparência. Nessa busca, muitas acabam
se autoexcluindo das posições de liderança, já que chegar a cargos mais altos
exige uma dedicação grande, que as obriga a sacrificar outras áreas da vida.
Chegar a posições de liderança é uma competição que o mercado impõe. Vence quem
se dedica mais, e é preciso avaliar quem deseja isso e o modo de fazer.
Por: Cibele Reschke, Fernanda Salla, Lais Botelho, Murilo
Ohl, Nina Neves e Raquel Beer
Fonte: Revista VOCÊ S_A