sexta-feira, 16 de agosto de 2013

As mulheres vão fazer a nova revolução do trabalho?

Elas preparam-se mais e destacam-se em carreiras antes dominadas por homens. A competição vai aumentar muito se elas não saírem do jogo antes da hora.

Na mesa de trabalho da 20ª mulher mais poderosa do mundo segundo a lista da revista americana Forbes, (Maria das Graças Foster, presidente da Petrobras), entre as pilhas de relatórios, balanços financeiros e planilhas de resultados também figuram esmalte, remédio para gripe e um DVD do músico inglês Phil Collins. No dia em que venceu as eleições de 2010, a presidente Dilma Rousseff declarou que todo pai e toda a mãe do Brasil podiam sonhar que suas filhas ocupassem o cargo mais alto da República.


Mulheres: vence quem se dedica mais
Entre 1980 e 2000, o nível de escolaridade das mulheres ultrapassou o dos homens. Hoje, entre a população com 15 anos ou mais de estudo, as mulheres são 57,5%, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2011, do IBGE. Nos cinco últimos anos, um novo movimento animador começou a se consolidar. Agora, as mulheres estão começando a ingressar nas carreiras tradicionalmente masculinas, principalmente as engenharias, apesar de ainda representarem uma parcela pequena do mercado. Trata-se de uma mudança cultural importante na sociedade brasileira. A tendência é de que nos próximos anos o movimento se amplie. O dado negativo é a área de ciências da computação, um dos mercados que mais absorvem profissionais atualmente, que teve um decréscimo na participação de mulheres — caiu de 40% para 28% de 2000 para 2010.

A entrada das mulheres nas carreiras de exatas é um passo importante para eliminar a barreira mais resistente que o sexo feminino encontra no mercado: a presença de mulheres nos cargos mais altos das empresas. Um estudo da Escola de Negócios Wharton mostra que uma das razões para a baixíssima presença de mulheres em altos cargos executivos — apenas 3% das empresas brasileiras têm mulheres na presidência — está nas escolhas que elas fazem na origem da carreira.

Um novo gás
Hoje, em uma década em que levantar bandeiras e causas tornou-se um hábito democrático saudável em todo o mundo, era de se esperar que surgisse alguém com a intenção de revitalizar o movimento feminista. Esse papel foi assumido pela americana Sheryl Sandberg, chefe de operações do Facebook. Ela conclama as mulheres a retomar a revolução feminina, que, em suas palavras, estagnou. Nos Estados Unidos, as mulheres igualaram os homens em termos de formação 30 anos atrás. E pouca coisa mudou desde então — mundialmente elas ocupam 9% das cadeiras de presidentes e 21% das diretorias e vice-presidências. Por isso é hora de dar um novo gás na revolução.

O modelo de trabalho atual foi pensado por homens e para homens, numa época em que eram eles os provedores financeiros de uma família enquanto as mulheres eram responsáveis pela educação e administração do lar. As mulheres foram pegas de surpresa. O resultado são gerações mais novas de mulheres que se veem obrigadas a optar por carreira ou família. Há uma enorme evasão nas empresas quando as mulheres chegam aos postos de liderança. Mulheres devem pensar grande, devem ter uma vista aérea da questão feminina. Os homens são aplaudidos por serem ambiciosos ao passo que as mulheres costumam pagar um preço social por isso.

De acordo com a economista Siham Hassan, diretora de gerenciamento de informação, as mulheres valorizam a competência pessoal, sem diferenciar gêneros. A filial brasileira da SAP, empresa de origem alemã e fornecedora de software de gestão, está lançando um programa no qual executivos do alto escalão da empresa devem dar apoio individualizado a mulheres em cargos de gerência. A medida tem por objetivo levar mulheres ao topo da companhia, que atua em um dos setores mais masculinizados do mercado. “A ideia é que as mulheres sejam mais vistas e consideradas para posições mais altas”, diz Paula Jacomo, diretora de RH da SAP.

Neste século, a bandeira de Sheryl Sandberg — levar mais mulheres aos principais cargos das empresas — é algo que dificilmente vai encontrar discordância entre homens e mulheres, pelo menos conscientemente. Executivos homens não ousarão discordar que o equilíbrio é bom, considerando-se que são pais, maridos ou, no mínimo, filhos de uma mulher.

Para as mulheres brasileiras, diferente de outras culturas, o trabalho tem que vir junto com uma vida familiar feliz, com tempo e pelo menos um filho. É como se tivessem três grandes áreas a dominar para ser felizes e bemsucedidas: o trabalho, a família e a aparência. Nessa busca, muitas acabam se autoexcluindo das posições de liderança, já que chegar a cargos mais altos exige uma dedicação grande, que as obriga a sacrificar outras áreas da vida. Chegar a posições de liderança é uma competição que o mercado impõe. Vence quem se dedica mais, e é preciso avaliar quem deseja isso e o modo de fazer.


Por: Cibele Reschke, Fernanda Salla, Lais Botelho, Murilo Ohl, Nina Neves e Raquel Beer
Fonte: Revista VOCÊ S_A

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